quinta-feira, 8 de abril de 2010

Reminiscências: Pessoas e Lugares

BROOKLYN: ruas arborizadas. A ponte. Igrejas e cemitérios por todo lado. Além de lojas de doces. Um garotinho de idade ajuda um senhor a atravessar a rua. O velho sorri e esvazia seu cachimbo na cabeça do guri. O menino corre chorando para casa. (...) Um calor infernal desce sobre o bairro. Os cidadãos colocam as cadeiras na calçada e sentam-se para conversar. De repente, começa a nevar. NINGUÉM SE ENTENDE. Um vendedor ambulante oferece rosquinhas quentes. Soltam-lhe os cachorros em cima e ele é obrigado a refugiar-se numa árvore. Infelizmente para ele, há mais cachorros à sua espera no alto da árvore.


BAÍA DE SHEEPSHEAD: um pescador exibe, rindo orgulhosamente, a lagosta que acabou de capturar. A lagosta crava as garras em seu nariz. O pescador pára de rir. Seus amigos puxam-no para um lado, enquanto os amigos da lagosta puxam do outro. NINGUÉM SE ENTENDE. O sol se põe. Estão nisso até agora.


NEW ORLEANS: Uma banda de jazz toca um tristíssimo blues sob a chuva num cemitério local enquanto alguém é enterrado. Terminado o sepultamento, a banda passa a tocar hinos religiosos e começa a descer em direção à cidade. No meio do caminho, descobre-se que haviam enterrado o homem errado. E, o que é pior, um nem conhecia o outro. A pessoa que tinha sido enterrada não estava morta, sequer doente - na realidade, limitava-se a cantar junto com a multidão. Todos voltam ao cemitério e exumam o pobre homem, o qual ameaça processá-los, embora estes lhe prometam mandar o seu terno para a tinturaria e pagar a conta. Entrementes, ninguém sabe quem realmente morreu. A banda continua a tocar enquanto cada um dos presentes é enterrado de cada vez, na expectativa de que o morto será aquele que protestar menos. [NINGUÉM SE ENTENDE.] Logo se torna aparente que ninguém ali está morto, mas agora já é tarde demais para se conseguir um corpo devido à proximidade dos feriados.


Woody Allen

[Um beijo para Woody e as nossas vozes]

3 comentários:

  1. Que bom que a gente se entende.Ou, pelo menos, tenta, né? rsrs.

    Sobre New Orleans foi demais.

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  2. Ah, agora eu tenho "carinha"! De vez enquando, eu e essa máquina nos entendemos! Ou, pelo menos, tentamos!rsrsrs.

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  3. Cara...

    Muito bom!

    Estou tentando enterrar meus pensamentos aqui, mas não consigo, to brigando com a Lagosta até hoje! rsrsrs

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