O que faz de um tango um tango não são as letras lamuriosas. O que faz de um tango um tango não é Gardel morto que canta cada vez melhor. O que faz de um tango um tango não são os passos ensaiados na tradição. O que faz de um tango um tango não é a orquestra com o ar cansado de quem tudo já viu. O que faz de um tango um tango não são as pernas altas da dançarina, calçadas em meias pretas. Não é seu cabelo preso, ora com flor, ora com fita. O que faz de um tango um tango não é o chapéu antigo do dançarino. Não são os seus sapatos lustrosos. Não é seu terno de risca-de-giz. Não é seu lenço dobrado no bolso da lapela. O que faz de um tango um tango não é Buenos Aires. Não é qualquer geografia. O tango não está no mundo das latitudes, das longitudes, das cartografias, dos guias turísticos.
O que faz de um tango um tango é a atração e repulsa. É a tentação e o medo. É o afeto e a raiva. O que faz de um tango um tango é ela seguindo na mesma direção dele, e ele seguindo na mesma direção dela, até que um tenta fugir e o outro tenta impedir, numa alternância de fugas que se querem e não se querem. O que faz de um tango um tango é a dor de um e de outro transformada em coreografia simétrica. O que faz de um tango um tango é o encontro que se desencontra e se reencontra. O que faz de um tango um tango são os volteios do amor que bebe no prazer e na fúria. Os volteios do amor que se amorna e logo torna a incandescer. O que faz de um tango um tango é o amor que, na iminência de um final que se pronuncia infeliz, acha o final feliz. Porque nunca em um tango que é tango os dançarinos terminam separados, descolados, deslocados.
O que faz de um tango um tango sou eu dentro de você na carne e você dentro de mim na alma, depois do último acorde, depois do último aplauso, depois da última lágrima, depois do último gozo. O que faz de um tango um tango é a música que se quer silêncio. O silêncio dos amantes.
Mario Sabino
terça-feira, 21 de setembro de 2010
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Título:...............(Se possível, dado por você)
Ele avança dois passos
E olha pra cima
Debaixo percebe que em cima está diferente
E a este evento
Ele chamou: Arte
Tudo era suficientemente novo para que ele pudesse questionar o que para ele era inquestionável diante das experiências vividas até ali que é onde ele quis sempre estar atento a todas as transformações que para ele não eram somente nomes
Num surto de ansiedade
A cabeça ele coçou
E mais uma vez tentou olhar para cima/ Que ainda estava diferente/ Ainda chamava de arte
E olha pra cima
Debaixo percebe que em cima está diferente
E a este evento
Ele chamou: Arte
Tudo era suficientemente novo para que ele pudesse questionar o que para ele era inquestionável diante das experiências vividas até ali que é onde ele quis sempre estar atento a todas as transformações que para ele não eram somente nomes
Num surto de ansiedade
A cabeça ele coçou
E mais uma vez tentou olhar para cima/ Que ainda estava diferente/ Ainda chamava de arte
?
Então decidiu compartilhar a sua descoberta
com todos aqueles que já haviam dito
que haviam descoberto o que ele decidira
compartilhar e todas essas questões ele projetou
didaticamente na parede e no papel e todos
aqueles que já haviam dito que haviam
descoberto que ele decidira compartilhar
amassaram suas projeções e continuaram a fazer o que haviam dito que haviam decoberto
E mais uma vez
Num surto de ansiedade
A cabeça ele coçou
Ele olha para cima
E percebe que o cima sempre estará diferente
Do cima que ele olhava antes
E percebe também
Que o cima diferente para ele não é igual para aqueles que já haviam dito que era diferente
Então decidiu não mais compartilhar a sua descoberta com todos aqueles que já haviam dito que haviam descoberto o que ele não decidira mais compartilhar
E depois dos dois passos avançados/ Do cima não mais compartilhado
Num surto de ansiedade
A cabeça ele coçou
E a esse evento
Ele também chamou: Arte
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
(este não é um título direcionador de olhares.)
- Olá, posso trabalhar no seu discurso?
- E quanto eu te pagaria?
- O suficiente pra que eu possa abandonar o remo e mergulhar nessa mentira.
- Tudo bem, mas eu não penso mais em você.
- E se você chorasse?
- Tampouco. Há reservatórios esperando pelo blues mais blue escorrer, e no entanto eu ainda não consegui parar de dançar.
- Nossa. Eu não esperava por isso; bastava uma resposta constrangedora...
- Para mim ou pra você?
- Tanto faz, contanto que alguém se machuque e vá logo pra casa.
- Fiz o melhor que pude.
- Você está sonhando...
- Isso eu não posso. Se ao menos meus sapatos parassem de dançar...
- Ai!
- O que foi?
- Um poema.
- E daí?
- Você não percebe? Eu acabo de pisar num poema amassado e...
- Sim, mas eu não pude imaginar o quanto isso seria pesado pra você.
- POR mim.
- Que seja. De qualquer maneira, me desculpe, mas o poema vai continuar aí. Não é meu.
- Não importa. A dor do tombo é maior do que a vontade de rir da testemunha. Vou embora.
- Não me surpreende.
- Não te previ.
- Não te interessa.
- Não me abandone.
- Não me subestime.
- Não me surpreenda.
- Não se esqueça.
- Não se interesse.
- Ok. Eu venci.
- Eu também.
- E quanto eu te pagaria?
- O suficiente pra que eu possa abandonar o remo e mergulhar nessa mentira.
- Tudo bem, mas eu não penso mais em você.
- E se você chorasse?
- Tampouco. Há reservatórios esperando pelo blues mais blue escorrer, e no entanto eu ainda não consegui parar de dançar.
- Nossa. Eu não esperava por isso; bastava uma resposta constrangedora...
- Para mim ou pra você?
- Tanto faz, contanto que alguém se machuque e vá logo pra casa.
- Fiz o melhor que pude.
- Você está sonhando...
- Isso eu não posso. Se ao menos meus sapatos parassem de dançar...
- Ai!
- O que foi?
- Um poema.
- E daí?
- Você não percebe? Eu acabo de pisar num poema amassado e...
- Sim, mas eu não pude imaginar o quanto isso seria pesado pra você.
- POR mim.
- Que seja. De qualquer maneira, me desculpe, mas o poema vai continuar aí. Não é meu.
- Não importa. A dor do tombo é maior do que a vontade de rir da testemunha. Vou embora.
- Não me surpreende.
- Não te previ.
- Não te interessa.
- Não me abandone.
- Não me subestime.
- Não me surpreenda.
- Não se esqueça.
- Não se interesse.
- Ok. Eu venci.
- Eu também.
em relação a:
estado de espírito,
exorcismo,
machado e sândalo
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