terça-feira, 15 de março de 2011

Plano B

Som de festa. A garota estava sentada no banquinho próximo à roseira branca. Sozinha. O menino, ansioso, ensaiava cada passo da dança num canto escondido, que se não fosse por uma fresta não conseguiria observar a bela garota. Ele ajeitou o paletó num movimento de dedos, como se cada um dançasse com o tecido alugado que compunha sua vestimenta. Lentamente ele esfregou os punhos no pescoço, já premeditando o aroma, e os levou até o nariz; queria certificar-se de que ainda perdurava o cheiro exótico do perfume que roubara do irmão mais velho.
Estava tudo pronto para o grande momento. O cenário era perfeito! A brancura da roseira refletia na rosada pele da garota, formando uma cartela de tons que variava do mais doce branco ao mais puro rosa. Ninguém estava por perto para impedir seu ato mais corajoso. Só lhe faltava um argumento, algo que servisse de subterfúgio para justificar a sua aproximação, para depois convidá-la para a dança que ensaiara a tarde toda. Então aparece a solução do modo mais surpreendente: durante todo o tempo que ensaiara não havia observado o arranjo de rosas vermelhas que estava em cima do aparador. Era a desculpa mais eficaz que poderia utilizar - uma rosa vermelha para a rosada garota da roseira branca.
Retirou a rosa do singelo vasinho e a levou para as costas, encontrando-se com seu outro braço; suas mãos abraçavam a vermelhidão que se exibia na flor. À medida que se aproximava da garota, suas mãos apertavam o pedúnculo da rosa causando uma trepidação nas pétalas aveludadas. Não conseguia segurar o coração pulsando na boca, a falta da saliva, as pequenas gotículas de suor que se escorria do canto esquerdo da testa até suas orelhas. Era seu primeiro ato de coragem.
Ao parar em frente à garota se satisfez alegremente; era a primeira vez que chegava tão longe. A garota, que limpava a poeira da barra do vestido escolhido pela mãe, olhou numa diagonal para os olhos do menino que de cima revelou um pequeno sorriso apertado dos olhos protegidos pelas lentes dos óculos. É chegada a hora de tomar partido! A garota verticalizou sua coluna e com a sobrancelha demonstrou expectativa sobre a presença do menino. Este aos poucos desfez o abraço das mãos e com o braço direito trouxe próximo ao peito a rosa. Ao posicionar a flor no sentido de sua fronte, gerando uma perspectiva entre a rosa e a garota, o menino se encantou. O forte vermelho das pétalas tingiram de sangue sua mão e dos seus dedos crispados no pedúnculo pingava em gotas de sangue toda a emoção que guardara na expectativa.
A garota horrorizada olhou para cena que não esperava. O insólito momento quebrou a verticalização que construíra, e ao olhar para o menino, proferiu apenas uma palavra:
- Sangue!
Em seguida, caiu no gramado próximo a roseira branca. Toda a festa, como formigas atraídas pelo açúcar novo, foi de imediato verificar o ocorrido. O menino não ouvia mais nada, voltou para o mesmo canto que viera e pela mesma fresta assistia o socorro da garota, e a única coisa que pensava era:
- Da próxima vez usarei luvas!