quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Cruelmente

Eu não estava nua, mas ao me ver sem escudo ele disse:
- Pare de me olhar com essa cara de rua molhada.
Não havia objeção para uma feição de rua molhada, então eu o fitei só por mais alguns momentos, que eram os que me cabiam. Não havia também cabimento para olhares desnudos além da sacada naquela noite muda. Expressões também se fazem em ossos e terminações nervosas.
Fiquei nervosa e parei um segundo para analisar o meu estado: ele analisava o asfalto brilhante diante da eletricidade que se desfazia em fios e virava lâmpada em poste. Dentro e fora eram nossos estados, portanto.
Ele descobriu o meu pensamento sem lençóis e disse:
- Que poética mais insolente a sua.
Ele não me destruiu mas arrancou sem dentes, lábios ou língua um beijo de dentro do meu ventre-cérebro, e senti uma dor pouco pungente.
- Eu nunca te disse... , eu disse.
Mas ele não ouviu e continuou brincando de rir dos meus pés despreparados para correr.
E então eu parei de auscultar ele pois cada ladrilho da sacada chuvosa emitia uma frase diferente sobre como eu deveria proceder, e num ímpeto de revolta crua eu apaguei o cigarro sobre aquele um que me dizia "descrave as unhas do passado".
Ele disse:
- Meu pé era o debaixo.
Mas eu não o ouvi, e num relance eu o fitei e ele virou pingo d'água de rua molhada no asfalto poético e insolente. Eu disse.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Presente Poema

Recebi, hoje, esse poema da Denise e não posso deixar de colocá-lo aqui.
A primeira frase, já me enche o peito. Te amo, De.


Se é sem regresso, prefiro que vá
Ter-te por narcisismo é muito previsível.
Se é fato o retorno, eu contorno
Prefiro o seu abraço aos poucos a nenhum.
Eu fico com a voz ao telefone,
Com as linhas escritas na contra-mao do dia quente,
Com o riso que ressoa como uma alfaia dentro de mim.
Eu me sinto traída por essas circunstancias repetentes,
Partir e mudar, mas nunca deixar o legado
O gosto salgado já vem breve.
Se soubesses quantos gestos repasso
desde que entrastes no meu quintal.
Não desejo que vá, mas se é relevante, retorne sempre
Prefiro o seu abraço aos poucos para que meu coração de amiga
Beba do gosto adocicado da nossa crença,
A fé de que ainda houve um tempo em que se podia dar as mãos sem medo.
Eu te amo, minha amiga.

Denise Mamede

domingo, 13 de setembro de 2009

Toca um mambo, disque jóquei!

Não sei se vocês se lembram da Heleninha Roitman, mas tenho certeza que já ouviram falar. Só pra refrescar a memória: ela era uma personagem da novela Vale Tudo, interpretada pela atriz Renata Sorrah. Heleninha tinha cenas grandiosas e, numa delas, ela está numa boate e pede pro disque jóquei (naquela época não se falava em DJ) colocar um mambo caliente para dançar, pois ela reclama que som está ruim, enfim...
Hoje acordei e, por causa da festa de ontem, me lembrei dessa cena. Eu tinha que ter dado uma de Heleninha e reclamado do som. Fiquei dando risada sozinha, imaginando como seria. Na verdade, eu até tentei conversar com o DJ, civilizadamente, e pedi para que ele colocasse umas músicas mais animadas, mas não adiantou. Ahhhh, que noite chata! E, embora eu já soubesse que a música do ambiente é muito importante pro meu bom humor ser mantido "all night long", ontem eu tive a prova de que ela é FUNDAMENTAL.
A música foi a grande vilã da noite. Eu estava com as pessoas que eu queria estar, o lugar era legal, a cerveja estava gelada, mas a noite não fluiu. Comecei a perceber que o clima estava bem estranho...As conversas estavam "truncadas", a cerveja estava difícil de engolir e o lugar começou a ficar escuro demais pra mim. O cigarro foi meu único prazer verdadeiro. Então, questionei o que tava acontecendo e encontrei a resposta : "Cadê a música?"
O melhor foi descobrir que quase todos meus amigos estavam perguntando a mesma coisa, interiormente, mas como eu, preferiram só pensar sobre o assunto. Até que chegou um determinado momento, que não tinha mais como guardar aquela angústia e todo mundo começou a ter sintomas visíveis da insatisfação melódica. O som estava tão baixo e a música era tão sem proposta, que o Marcelo chegou à uma ótima conclusão: "a música está exercendo a função de não-silêncio." Nossas conversas eram permeadas por um zumbido.
Isso é muito frustrante pra quem tem uma semana cansativa e espera o fim de semana para poder se divetir. Eu sei que foi uma escolha ter permanecido na festa e, portanto, também tenho minha parcela de colaboração com tudo isso, mas pô, DJ: toca um mambo caliente, na próxima!

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Preguiça Declarada.

não vou mais fazer sala pra ninguém
quem sentar que sente
quem chorar que chore
quem quiser rezar que reze
(amém)

quem quiser que se sirva desse som
quem sentir que sinta
quem sair que saia
contanto que não saia do tom

quem quiser vinho que venha
quem quiser chance que cante
quem quiser terra que plante
quem quiser transe que dance
quem quiser beijos que roube
quem quiser do-in que doe
quem quiser sinos que soe
quem quiser asas que voe
quem quiser fogo que queime
quem quiser vento que invente
quem quiser toques que toque
quem quiser corda que acorde
quem quiser carne que encarne
quem quiser cachos que encaixe
quem quiser pele que apele
quem tiver língua que fale
(blá blá blá)

e quem quiser que cante outra.


[:: Quem Quiser - Dona Zica]

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Nós, os 'OSCILADORES'


humilde homenagem a quem não tem medo de carregar a cara, a coroa e a coragem no peito.