domingo, 14 de novembro de 2010

Um pouco do que penso atualmente quando penso em arte.

A vida deve obedecer a duas necessidades que, por serem opostas entre si, não lhe permitem nem se fixar duradoramente nem se mover sempre. Se a vida se movesse sempre, não se fixaria nunca - se se fixasse para sempre, não se moveria mais. E é preciso que a vida se fixe e se mova.
O poeta se ilude quando crê ter encontrado a libertação e atingido a quietude, fixando para sempre numa forma imutável a sua obra de arte. Esta sua obra apenas acabou de viver. Não se têm a libertação e a quietude senão à custa do término do viver.
E todos os que as encontraram e atingiram ficam a tal ponto nessa miserável ilusão, que crêem estar ainda vivos, quando estão, ao invés, tão mortos que nem sequer percebem o fedor de seus próprios cadáveres.
Se uma obra de arte sobrevive, é só porque ainda podemos removê-la da da fixidez de sua forma; fundir essa sua forma dentro de nós em um movimento vital; e a vida, então, somos nós quem lha damos; a cada tempo diversa, e variando de um para o outro de nós; muitas vidas, e não uma só; como se pode deduzir das contínuas discussões que se fazem a respeito e que nascem do não querer acreditar justamente nisso - que somos nós que damos essa vida, e que de fato não é possível que a vida que eu dou seja igual àquela dada por um outro.

Pirandello - "Esta noite se representa de improviso"