domingo, 31 de janeiro de 2010

Meus caros, preparem-se, é hoje;

Hoje é o dia de forjar o choro. Passar a mão pelas memórias levemente, ouvir músicas arrastadas e arasadas, abraçar o próprio coração com tanta força, mas tanta, que dele saiam gritos de sangue. É dia de lembrar de como foi marcante, de como poderia ter sido. Bagunçar um pouco a mente com versões verossímeis de episódios que nunca aconteceram.

Que tal esquecer de acontecer?

É hoje, só pode ser hoje... A ventania que antecede a chuva entristece o fim do dia, obscurecendo o sol sem que ele possa ao menos se explicar. E é de uma beleza tão brilhante que logo acaba, com o surgimento de estrelas e da lua cheia, aparentando esconder segredos incontáveis, e relâmpagos acentuam as palavras consteladas pelo céu misturado aos postes e edifícios. Não há como não ser hoje.

Ouça as vozes, deite-se no chão, leia Clarice, leia Sartre, Florbela e Pessoa, leia o interior das coisas e pense em como tudo faz um sentido absurdo... Hoje é dia de encostar na parede e arrastar-se até o chão - vale tudo para fazer o pranto acontecer -, dia de parar o olhar e fixá-lo em nada por longos minutos, talvez tomar uma garrafa de vinho e sentir que se está só. Não deixe o telefone tocar, a não ser que seja engano!

E se hoje fosse seu aniversário?

A chuva ainda não veio, mas estou certa de que é hoje. Acredite! Busque brilhar os olhos com alguma fotografia muito linda, busque molhar os olhos com as coleções de cartas de pessoas muito queridas e com os filmes que você nunca mais vai esquecer... Hoje é dia de ouvir a sua trilha sonora e apertar os olhos; algo há de sair.

Faça um esforço... vale a pena. Chore um pouco hoje, ou chore muito até amanhã. Chore por qualquer coisa, pouco importam os motivos; apenas chore. Pelas crianças mudas telepáticas ou pela morte da bezerra ou pelo leite derramado. Chore de alegria. Saudade. Medo. Tristeza. Chore de rir, mas chore...

Pois eu ainda não consegui.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Eita, trem bão!


Finalmente conheci um pouco de Minas Gerais. Antes, eu só tinha ido até aquelas cidades que a gente pergunta: "Mas isso aqui já é Minas?" e nem percebe que estamos em outro estado. Mas dessa vez, eu viajei por horas e horas (o que já dá a sensação de que estamos em outro estado mesmo) e pude notar a diferença entre o que vivemos aqui e o que é o mundo de lá. Pode parecer exagero da minha parte, mas pra mim, foi tudo muito diferente.

Apesar da pista simples e da péssima sinalização, a estrada não deixa a desejar. Fiquei encantada com o que via no caminho e mais ainda quando cheguei em Ouro Preto. Gostei demais do que vi, ouvi e senti. A cidade exala história por todos os poros e dá pra sentir o peso que ela carrega nas suas ladeiras, igrejas e esquinas. Fiquei mais desacordada ainda quando vi uma maquete, no Museu da Inconfidência, do que era a Vila Rica na época da mineração e, de repente, olhei pro chão e imaginei que estava em cima desse palco, cheio de história pra contar.

Visitei muitas igrejas (muitas mesmo) ao longo de todas as cidades históricas que passei e, apesar de não ter afinidade nenhuma por elas, gostava de sentar nos bancos e pensar um pouco sobre como tudo aquilo foi construído, o que se passava naquela época e, principalmente, sobre as pessoas que entregavam suas vidas em busca de algo que elas mesmas não podiam se apropriar.

Também não posso deixar de mencionar o meu entusiamos pelo povo mineiro. Eita! Que coisa gostosa! Quase sempre estávamos perdidos nas cidades por onde passamos, mas sempre encontrávamos um mineiro com sorriso no rosto para nos ajudar. Teve um que até pegou sua moto e nos levou para onde deveríamos seguir. Fora o sotaque adorável, o brilho nos olhos e a calma tão sincera e incomum que quase não vejo por aqui e, que aliás, muito menos em mim mesma.

Talvez seja por esse motivo que eu tenha sentido tanta diferença de um lado pro outro. O que eu vivo aqui e o meu jeito de ser, são muito diferentes do que o que eu vi lá. Não digo que minha realidade é melhor ou pior, mas bem diferente e isso me fascina. Gosto do que me deixa sem chão, do que me leva a querer modificar ou ampliar meus horizontes e fazer uma reforma no meu modo de caminhar nesse mundo sem fim.

Estou aqui, então, recomendando essa viagem para os que não foram. Para mim, ela foi umas das mais especiais que eu já fiz, mas talvez isso tenha se dado pela minha paixão por história e pela companhia tão querida que estava ao meu lado nessas descobertas. Por outro lado, sei que é impossível não ser tocado por essa outra parte de Brasil, simplesmente pelo fato dela ser outra.


domingo, 3 de janeiro de 2010

Trocando lentes, obturadores, objetivas

Anos de auto-análise se afunilam em graves alfinetadas.
O processo autoral passa pelo refinamento e suas cordas são afinadas por mãos alheias que se carrega por dentro, no interior de um pacote de pura entrega.
Nos últimos dias e meses e anos aprendi que crescer requer coragem. E coragem requer a preparação do ringue cerebral com muita luva e pouca espuma.
Há muita violência no caminho. É preciso!
Não sei mais se quero depender de ciclos para recomeçar e traçar planos - basta olhar-me no espelho e respirar fundo; acumular muito fôlego, relembrar o equilíbrio da perna-de-pau e desaprender o da corda-bamba ("não há guarda-chuva..."). É duro perceber que só se sabe cair de bunda. Há outras extremidades...
Agora é hora de aproveitar o sossego para ensaiar o desassossego!
A pequena infante não quer ir embora; e não vai... Não será necessário. Ainda tenho que brincar de bola...
Guardarei com carinho e me lembrarei com carinho de cada borboleta que passa pelo estômago, mas é tempo de cuspir as violetas certas, custe o que custar. Haja o que houver. Haja o que houver. Haja. Aja. Já!

Façam muitas manhãs, que se o mundo acabar, eu ainda não fui.
Ah, eu hei de ser
Terei de ser
Serei.


Um beijo para as vozes que ouço diariamente.