terça-feira, 21 de dezembro de 2010
domingo, 14 de novembro de 2010
Um pouco do que penso atualmente quando penso em arte.
O poeta se ilude quando crê ter encontrado a libertação e atingido a quietude, fixando para sempre numa forma imutável a sua obra de arte. Esta sua obra apenas acabou de viver. Não se têm a libertação e a quietude senão à custa do término do viver.
E todos os que as encontraram e atingiram ficam a tal ponto nessa miserável ilusão, que crêem estar ainda vivos, quando estão, ao invés, tão mortos que nem sequer percebem o fedor de seus próprios cadáveres.
Se uma obra de arte sobrevive, é só porque ainda podemos removê-la da da fixidez de sua forma; fundir essa sua forma dentro de nós em um movimento vital; e a vida, então, somos nós quem lha damos; a cada tempo diversa, e variando de um para o outro de nós; muitas vidas, e não uma só; como se pode deduzir das contínuas discussões que se fazem a respeito e que nascem do não querer acreditar justamente nisso - que somos nós que damos essa vida, e que de fato não é possível que a vida que eu dou seja igual àquela dada por um outro.
Pirandello - "Esta noite se representa de improviso"
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
(ingenerável)
Minha voz pode alcançar o Oceano Índico e atravessar a nebulosidade de um vulcão! What I'd say...
Sempre que... Espere.
Minha cabeça não para de girar... O universo respira contra meus olhos, e meu coração provavelmente está em um de meus sapatos. Nas minhas mãos secas estão as paredes e portas do corredor - chamativo chão, fugitivas chaves.
Sempre andando, nunca querendo chegar, eu derreto
Pudera, depois de ter perseguido todos os carros da cidade em um sábado desalmado, desbravei fantasmagoricamente mais de cento e vinte e quantos peitos, mas quem se arrisca num sábado desalmado tem o corpo fechado, inclusive eu, inclusive os vasos sanitários que se tornam velhos confidentes, inclusive os suportadores saltos altos, ah se eu pusesse as mãos neles, mas agora elas seguram paredes e portas, mas nunca maçanetas.
O universo respira em círculos desde quando resolvi guardar meu coração onde ninguém pudesse pisá-lo a não ser eu. E me pergunto se algum dia poderei sair desse transatlântico onde os lençóis são tão amarelos e oitentistas e o carpete cheira a soco inglês tão cinquentista e as pobres torneiras verdes tão setentistas... Ah, meu sofrimento... Tão... sessentista.
Bem, eu não preciso de ninguém, porque aprendi, eu aprendi a ficar só. E digo mais: não tenho culpa se os moinhos-de-vento e as retroescavadeiras acabam bravamente derrotados por mim...
Minha voz pode te deixar em carne viva! Viva a carne... A carne tão desalmada quanto um sábado. Um sábado desalmado onde cães e cuecas afiam as facas nos meus erros...
É o mesmo mundo igual, mas nada me parece velho oras aaaaaaaaaaaaaaaaaa
Tiro as paredes e portas das mãos para que caiba a minha cabeça giratória. Arranco o sapato do pé, respiro fundo, é agora, e digo: qualquer lugar em que eu puder encostar a cabeça eu vou chamar de casa.
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Vício (um dos).
Manteiga
Cebola
Alho
Queijo ralado
Refogue a cebola e o alho na manteiga (coloque uma boa quantidade de manteiga). Quando o macarrão estiver pronto, misture-o com o refogado e acrescente queijo relado.
E viva o macarrão na manteiga!
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Sigo nessa dança.
O que faz de um tango um tango é a atração e repulsa. É a tentação e o medo. É o afeto e a raiva. O que faz de um tango um tango é ela seguindo na mesma direção dele, e ele seguindo na mesma direção dela, até que um tenta fugir e o outro tenta impedir, numa alternância de fugas que se querem e não se querem. O que faz de um tango um tango é a dor de um e de outro transformada em coreografia simétrica. O que faz de um tango um tango é o encontro que se desencontra e se reencontra. O que faz de um tango um tango são os volteios do amor que bebe no prazer e na fúria. Os volteios do amor que se amorna e logo torna a incandescer. O que faz de um tango um tango é o amor que, na iminência de um final que se pronuncia infeliz, acha o final feliz. Porque nunca em um tango que é tango os dançarinos terminam separados, descolados, deslocados.
O que faz de um tango um tango sou eu dentro de você na carne e você dentro de mim na alma, depois do último acorde, depois do último aplauso, depois da última lágrima, depois do último gozo. O que faz de um tango um tango é a música que se quer silêncio. O silêncio dos amantes.
Mario Sabino
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Título:...............(Se possível, dado por você)
E olha pra cima
Debaixo percebe que em cima está diferente
E a este evento
Ele chamou: Arte
Tudo era suficientemente novo para que ele pudesse questionar o que para ele era inquestionável diante das experiências vividas até ali que é onde ele quis sempre estar atento a todas as transformações que para ele não eram somente nomes
Num surto de ansiedade
A cabeça ele coçou
E mais uma vez tentou olhar para cima/ Que ainda estava diferente/ Ainda chamava de arte
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
(este não é um título direcionador de olhares.)
- E quanto eu te pagaria?
- O suficiente pra que eu possa abandonar o remo e mergulhar nessa mentira.
- Tudo bem, mas eu não penso mais em você.
- E se você chorasse?
- Tampouco. Há reservatórios esperando pelo blues mais blue escorrer, e no entanto eu ainda não consegui parar de dançar.
- Nossa. Eu não esperava por isso; bastava uma resposta constrangedora...
- Para mim ou pra você?
- Tanto faz, contanto que alguém se machuque e vá logo pra casa.
- Fiz o melhor que pude.
- Você está sonhando...
- Isso eu não posso. Se ao menos meus sapatos parassem de dançar...
- Ai!
- O que foi?
- Um poema.
- E daí?
- Você não percebe? Eu acabo de pisar num poema amassado e...
- Sim, mas eu não pude imaginar o quanto isso seria pesado pra você.
- POR mim.
- Que seja. De qualquer maneira, me desculpe, mas o poema vai continuar aí. Não é meu.
- Não importa. A dor do tombo é maior do que a vontade de rir da testemunha. Vou embora.
- Não me surpreende.
- Não te previ.
- Não te interessa.
- Não me abandone.
- Não me subestime.
- Não me surpreenda.
- Não se esqueça.
- Não se interesse.
- Ok. Eu venci.
- Eu também.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Um pesar das coisas!
Quero aproveitar meu tempo para organizar as ideias e dividi-las com vocês, fazemos tanto isso nas nossas conversas que não sobra surpresa para transcreve-las; parece que não é necessária a transcrição, visto que nos confortamos no "ao vivo" da nossa amizade. Melhor que seja assim, pois as relações que acontecem de fato superam quaisquer outras que se dão por meios virtuais (eu que o diga), mas um pouquinho de novidade não faz mal! Perdoem-me pelo plural, acabei falando por vocês que sempre estão aqui, escrevendo...
Enfim, essa tomada de consciência tem somente a finalidade de lhes dizer: Estarei mais presente nesse contexto.
Um beijo as vozes que me escutam diariamente (hahahaah)
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
...
Ainda não consigo imaginar minha vida sem ele aqui, sempre tão companheiro. Também sei que, nesses mais de 10 anos de amizade, já estivemos bem distantes fisicamente e em diferentes momentos de vida. Mesmo assim, nunca nos perdemos. Não vai ser agora.
Fico muito feliz com mais essa conquista dele e sei que esse tempo não é nada perto do que fomos, do que somos. Mas, ainda assim, serão dois anos de muita saudade. Saudade dos foundes de queijo que só ele e o Campo Limpo sabem fazer (rsrs), saudade de ir ao cinema com quem sabe tudo de cinema, saudade das ansiedades compartilhadas, saudade do esforço que ele faz pra entender meu coração, saudades dos nossos segredos, saudade das mensagens trocadas durante todo o dia, saudade das reclamações de trabalho dele, saudades das brincadeiras tão nossas.
Enfim, já tô aqui, morrendo de saudades e contando os dias pra que ele chegue, de volta.
Te amo, Zirzu.
Marinovsky
domingo, 25 de julho de 2010
- sobre o que fica no braseiro de um encontro
(Uma sensação de nostalgia amarrada à ausência de ocasionalidades. O acaso chegou a me abandonar durante um tempo, ou eu o abandonei... Remorso de personalidade. Fúria. Paciência.)
Eu sou uma pessoa, sou essa pessoa, e nessa tentativa de autoafirmação sinto que mantenho comigo as marcas de ferro quente que o outro (que compreende uma quantidade infinita de indivíduos) faz em mim, muitas vezes só por sorrir e acenar ou por atirar um ou outro gesto de indelicadeza. E o outro é uma pessoa, é aquela pessoa, e somos eus e outros os pontos de intersecção da maior teia do mundo. Mas não é aqui que eu quero chegar.
Somos tocados uns pelos outros, e tocamos uns aos outros o tempo todo, num movimento injusto, porque nos falta percepção e sensibilidade (ou seria coragem?) para tocar e ser tocado. Uma vez acariciei e levei uma escarrada. Outra vez fui beijada e dei um soco. Há-braços que ferem.
E essa dinâmica ora me enche os olhos, ora me aborrece e frustra, como se estivesse vendo as coisas pela primeira vez. As coisas, porque são muitas.
Quando não nos vale o toque, o contato, jogamos fora? Nem sempre o que não nos vale não nos afeta; afinal, quando tocamos as coisas, espalhamos nossas digitais, e uma vez que o ferro quente nos marca a pele, a cicatriz não sairá mais. E enxergar essa dinâmica como algo mágico ou poético é só uma questão de perspectiva. É quase aqui que eu queria chegar.
Muitos dos meus hábitos, gostos e repetições são marcas de ferro quente ou digitais que me foram depositadas. Palavras são desnecessárias (acho que acabo de me desmoralizar a favor de uma música que TOCA). Há coisas que não compreendemos logo, assim, de cara, mas chega um momento em que se pode ver que há uma saída. Pois há a saída de equiparar um encontro 'eu-outro' com a relação 'autor-obra': o proceso "nascimento - amor - morte".
Pisamos num determinado espaço (pois basta um passo à frente para não estar no mesmo lugar), nascendo assim na vida do outro e o outro na nossa, e sofremos qualquer tipo de afetação através do toque, direto ou indireto, estabelecendo eventualmente uma espécie qualquer de relação entre a gente - como a relação do amor do autor pela sua obra -, e o fim é a morte de um para o outro. PARA o outro. Sim, nós continuamos existindo após o final de cada encontro, mesmo que só pra nós mesmos. Era mais simples chegar onde eu queria.
No final das contas, essa dinâmica toda fica em cada brasa dos ferros quentes, em cada sintoma de representação, em cada problemática e ponto de intersecção dessa grande teia. Sem determinação, garantia, contrato, certeza.
Eu sou essa pessoa, você é essa pessoa, e eu sinto falta da falta do nosso encontro.
Talvez nunca chegue onde queria chegar.
domingo, 18 de julho de 2010
Isto ou aquilo?
Portanto, a vida já começa dentro do universo da escolha. Isso não apavora? Eu fico extremamente incomodada, pois isso só me prova que não temos mais como escapar...Vai ser assim até o fim. Eu, particularmente, odeio escolher e evito, ao máximo, essas situações, mas é impressionante como elas me perseguem e me colocam na parede o tempo todo: "ou isto ou aquilo, Marina! Você escolhe!" (eu ouço essa frase constantemente, tanto dos outros, como da minha própria consciência).
Existem situações em que é impossível não escolher, como por exemplo, sentar no bar e decidir se quer tomar cerveja ou vinho. Você pensa no que seria mais gostoso para aquele dia e faz sua opção. Essa é a tal da escolha racional, que me apavora, pois se você pensa, é porque as duas opções são bem vindas. O pior: muitas vezes, a gente escolhe a cerveja, mas fica uma pontinha de desejo de tomar um vinho, nem que seja uma taça. Nesse caso, você escolhe se quer passar mal ou não, hahaha.
Mas, dentro de tantas situações angustiantes (pelo menos pra mim), existe aquela escolha que nem deveria ser chamada de escolha, pois nem percebemos que ela está operando. Essa escolha, é definida por mim, como a escolha apaixonada. A gente escolhe como se aquele fosse o único caminho a seguir e nem paramos pra pensar sobre o que estamos perdendo ou ganhando. Dizem que essa é a mais perigosa de todas e, é claro, eu luto para que ela não me pegue, mas ela sim é INEVITÁVEL. Em algum momento da vida ela dá as caras e a gente não consegue mais voltar atrás, por mais que as pessoas tentem te convencer de que aquilo tudo é uma loucura.
Uma metáfora boba para isso, é quando temos que escolher o sabor do sorvete. Tem dias, que a gente fica horas pensando sobre qual seria melhor, mas existem outros dias, que a gente acorda desejando o de flocos tão fortemente, que nem nos preocupamos que existem mais de 50 tipos disponíveis no mundo. Só o de flocos basta.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Abaixa o rádio Dona Maria!
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Ah, essas calças surradas...
Mas existe um momento bem crítico dessa paixão: quando elas rasgam. Eu, pelo menos, fico insistindo para que minha vó, que é costureira e que não se conforma com tal adoração, possa cerzi-la ou colocar um remendo que não salte aos olhos de quem me vê. Já obtive sucesso algumas vezes e elas duraram algumas semanas a mais.
A tristeza maior é que elas não são eternas. Chega uma hora, que o lixo é o único lugar plausível que elas devem ocupar. Sendo assim, temos que comprar uma nova e começar a luta novamente, sabendo que um dia elas também podem ter o mesmo destino...
Isso tudo parece muito lógico: não queremos nos desfazer do que é extremamente confortável, não é? Esse é o grande mal. Por essas e por muitas outras, é que passei a dar ouvidos pra minha nonna! Pra que prolongar esse desgaste? Se chegou ao ponto de rasgar, é porque já foi até o limite do que pode ser. Calças novas, bem escolhidas, também podem ser confortáveis e bonitas.
Vou terminar por aqui, com as palavras do Fernando Pessoa, que me vieram à cabeça enquanto eu escrevia.
"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os caminhos, que nos levam sempre aos mesmo lugares. É o tempo da travessia; e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, pra sempre, à margem de nós mesmos."
E que venham as boas novas!
sexta-feira, 18 de junho de 2010
E agora, José?

"Os bons e maus resultados de nossos ditos e obras vão distribuindo-se, supõe-se que de maneira bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles infindáveis, que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratularmo-nos ou pedir perdão. Aliás, há quem diga que isto é a imortalidade de que tanto se fala."
(José Saramago)
E que você encante outros mundos com suas histórias...
terça-feira, 15 de junho de 2010
outra coisa:
sugestões são mais que bem-vindas.
as fotos mudarão também.
mais tapas e beijos
SALVEM O BLOG!

mas não vamos deixar o nosso pobrezinho com fome... ele se alimenta de sopa de letrinhas. nossa que ENGRA!
o fato é que estou protestando contra a gente que tá mole demais pra sentar e escrever.
DIGNIDADY JAH
tapas e beijos
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Qual o seu cansaço?
O que mais me impressiona é que algumas pessoas não cansam! Que coisa maluca isso. Só de pensar num processo incansável, fico ofegante. Será que eles não entendem como isso é chato? Chega uma hora que a gente tem que olhar além do que está posto...Outras perspectivas, outros anseios, outros outros. O mundo é tão grande e cheio de tanta coisa, que não dá pra parar no mesmo ponto e ficar ali, lamentando, sonhando, idealizando e, o pior, querendo carregar o outro pra esse mesmo lugar, ainda que ele se mostre cada vez mais de saco cheio.
É isso mesmo. Cansei disso, cansei de conter minhas lágrimas, cansei do outro, cansei da falta de amor, cansei do excesso dele, cansei de ser o que eu quero,cansei da minha irmã morar tão longe, cansei de não gostar de nozes, cansei de sentir saudades, cansei da novela das 6, cansei dessa droga deliciosa que são meus dias, cansei da embalagem nova do Malboro, cansei da minha alergia ao pó, cansei de gostar de chocolate amargo,cansei de querer olhar e não conseguir,cansei de todas as bandas inglesas, cansei de não querer mudar minhas convicções, cansei de mudá-las, cansei de ter que secar a franja, cansei de rir sem achar graça, cansei da minha pasta de dente Close Up vermelha, cansei dos abraços que não me saciam, cansei do preço das passagens rodoviárias, cansei de associar vinho ao frio, cansei de todas as palavras e, mesmo assim, ter que usá-las, cansei dos avisos do metrô, cansei dos filmes que tocam meu coração, cansei da linhaça, cansei até da Dolto.
Hoje, só não me cansei de pensar em você. :)
terça-feira, 11 de maio de 2010
segunda-feira, 10 de maio de 2010
segunda-feira, 3 de maio de 2010
quinta-feira, 22 de abril de 2010
Simples assim.
Alguns de seus colegas começam a rir e a professora questiona o por quê das risadas. Uma das meninas explica que esse plano é "quase impossível, afinal não é tão fácil arranjar helicópteros. Depois de alguns segundos, logo surge mais um plano infalível, dessa vez dito por Isabel, também de 6 anos: "É simples! A gente pode ir no carro da minha mãe!"
(Ao lado deles, cada vez mais, resignifico minha vida).
segunda-feira, 12 de abril de 2010
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Reminiscências: Pessoas e Lugares
BAÍA DE SHEEPSHEAD: um pescador exibe, rindo orgulhosamente, a lagosta que acabou de capturar. A lagosta crava as garras em seu nariz. O pescador pára de rir. Seus amigos puxam-no para um lado, enquanto os amigos da lagosta puxam do outro. NINGUÉM SE ENTENDE. O sol se põe. Estão nisso até agora.
NEW ORLEANS: Uma banda de jazz toca um tristíssimo blues sob a chuva num cemitério local enquanto alguém é enterrado. Terminado o sepultamento, a banda passa a tocar hinos religiosos e começa a descer em direção à cidade. No meio do caminho, descobre-se que haviam enterrado o homem errado. E, o que é pior, um nem conhecia o outro. A pessoa que tinha sido enterrada não estava morta, sequer doente - na realidade, limitava-se a cantar junto com a multidão. Todos voltam ao cemitério e exumam o pobre homem, o qual ameaça processá-los, embora estes lhe prometam mandar o seu terno para a tinturaria e pagar a conta. Entrementes, ninguém sabe quem realmente morreu. A banda continua a tocar enquanto cada um dos presentes é enterrado de cada vez, na expectativa de que o morto será aquele que protestar menos. [NINGUÉM SE ENTENDE.] Logo se torna aparente que ninguém ali está morto, mas agora já é tarde demais para se conseguir um corpo devido à proximidade dos feriados.
Woody Allen
[Um beijo para Woody e as nossas vozes]
quinta-feira, 1 de abril de 2010
O Abridor de Latas
Pela primeira vez no Brasil um conto escrito inteiramente em câmera lenta.
Quando esta história se inicia já se passaram quinhentos anos, tal a lentidão com que ela é narrada. Estão sentadas à beira de uma estrada três tartarugas jovens, com 800 anos cada uma, uma tartaruga velha com 1.200 anos, e uma tartaruga bem pequenininha ainda, com apenas 85 anos. As cinco tartarugas estão sentadas, dizia eu. E dizia-o muito bem pois elas estão sentadas mesmo. Vinte e oito anos depois do começo desta história a tartaruga mais velha abriu a boca e disse:
- Que tal se fizéssemos alguma coisa para quebrar a monotonia dessa vida?
- Formidável - disse a tartaruguinha mais nova 12 depois - vamos fazer um pique-nique?
Vinte e cinco anos depois as tartarugas se decidiram a realizar o pique-nique. Quarenta anos depois, tendo comprado algumas dezenas de latas de sardinha e várias dúzias de refrigerante, elas partiram. Oitenta anos depois chegaram a um lugar mais ou menos aconselhável para um pique-nique.
- Ah - disse a tartaruguinha, 8 anos depois - excelente local este!
Sete anos depois todas as tartarugas tinham concordado. Quinze anos se passaram e, rapidamente elas tinham arrumado tudo para o convescote. Mas, súbito, três anos depois, elas perceberam que faltava o abridor de latas para as sardinhas.
Discutiram e, ao fim de vinte anos, chegaram à conclusão de que a tartaruga menor devia ir buscar o abridor de latas.
- Está bem - concordou a tartaruguinha três anos depois - mas só vou se vocês prometerem que não tocam em nada enquanto eu não voltar.
Dois anos depois as tartarugas concordaram imediatamente que não tocariam em nada, nem no pão nem nos doces. E a tartaruguinha partiu.
Passaram-se cinqüenta anos e a tartaruga não apareceu. As outras continuavam esperando. Mais 17 anos e nada. Mais 8 anos e nada ainda. Afinal uma das tartaruguinhas murmurou:
- Ela está demorando muito. Vamos comer alguma coisa enquanto ela não vem?
As outras concordaram, rapidamente, dois anos depois. E esperaram mais 17 anos. Aí outra tartaruga disse:
- Já estou com muita fome. Vamos comer só um pedacinho de doce que ela nem notará.
As outras tartarugas hesitaram um pouco mas, 15 anos depois, acharam que deviam esperar pela outra. E se passou mais um século nessa espera. Afinal a tartaruga mais velha não pôde mesmo e disse:
- Ora, vamos comer mesmo só uns docinhos enquanto ela não vem.
Como um raio as tartarugas caíram sobre os doces seis meses depois. E justamente quando iam morder o doce ouviram um barulho no mato por detrás delas e a tartaruguinha mais jovem apareceu:
- Ah, murmurou ela - eu sabia, eu sabia que vocês não cumpririam o prometido e por isso fiquei escondida atrás da árvore. Agora não vou buscar mais o abridor, pronto!
Fim (30 anos depois)
Millôr Fernandes
domingo, 28 de março de 2010
Ato Falo. Op's, Falho.
Algumas pessoas tentam justificar os atos falhos como cansaço, falta de atenção, etc. Claro. Muito mais tranquilo e bem mais plausível. Tem também aqueles que chegam a dizer que conseguem controlá-los! Maravilha, não? É como se a palavra viesse na boca e a gente conseguisse prendê-la na grade dentária. Isso faz com que a pessoa não passe por situações constrangedoras, mas ainda assim, não se livra da pergunta que não quer calar: "Por que eu quase disse isso?"
Escrevo sobre isso hoje porque ando incomodada com os meus atos...falhos, rsrs. Antes eu não dava muita bola, pois eles quase nunca aconteciam, mas de uns tempos pra cá, tem sido algo muito corriqueiro na minha vida: quando vejo, já troquei o nome, a expressão, a palavra...Tem dias que é impressionante. Eu acho (olha aí meus "achismos") que isso tem acontecido porque não tenho sonhado muito e, por estar em SP e não ter mudado de analista, fico quase duas semanas sem deitar naquele bendito divã. A única coisa que me conforta é que eles tem sido bem discretos e, na maioria das vezes, não fazem sentido algum quando acontecem e não tem causado situações embaraçosas. Depois que passa é que eu fico ali, matutando, buscando explicação e, quase sempre, encontrando (não sei se isso é bom ou ruim, rsrs).
Existem muitos exemplos desses lapsos e todos estamos sujeitos à eles. Que atire a primeira pedra quem nunca os cometeu! Mas calma...Não é sempre que eles devem ser interpretados, pois sua resposta está ligada às nossas próprias associações e, se preferir, nem é necessário pensar sobre isso se você não quiser. Viu como é fácil deixá-los pra trás?
O pior são aqueles que você procura explicação de todas as formas e, quando percebe que realmente não fez sentido algum e que tudo isso é uma grande baboseira, a resposta vem depois de meses. E, para minha felicidade, esses são os que mais acontecem comigo. Eu sempre me revoltava com a psicanálise e jogava toda a teoria no lixo, lutando pra provar pra mim mesma que, na prática, isso tudo era uma viagem, rsrs. Sempre em vão, pois logo tudo se encaixava perfeitamente. Hoje em dia, me incomoda, claro, mas aceito e tenho fé nisso! Hahahaha!
Bom, paro por aqui. Se algumas palavras estiverem erradas no meu texto, me perdoem, mas dessa vez, é porque o teclado do meu computador é muito pequeno e a luz sempre deixa meus olhos meio embaçados. Tá vendo? Nem tudo tem que ser analisado, não é mesmo? (e eu preciso dormir em paz esta noite! rsrsrs).
segunda-feira, 22 de março de 2010
Já já passa...
Passa...
...
Sinto-me junto com o silêncio, precisando ouvir um certo "A" com a alma:
- Diz "a" pra mim
- ...
-Diga " a " somente!
- ...
-Só preciso de um "a"
- ...
-Diga "a" dizendo nada vai mudar.
-...
E nesse silêncio fiquei!
Só me restar dizer pra mi mesmo:
-Diga "a" dizendo que já chega.
- A!
sexta-feira, 12 de março de 2010
quarta-feira, 10 de março de 2010
Love Boat Captain
Primeiro vem o amor, seguido da dor. Que comecem os jogos!
(Insuperavelmente, perguntas aumentam e respostas caem)
Oh, Capitão da Embarcação do Amor! Leve embora os reinos e reinados, e conduza-nos em direção à luz que há por dentro.
Sim, isso já foi (muito) cantado, mas nunca o suficiente:
All you need is love.
Seria essa nada mais que mais uma fase de terremotos autores de grandes ondas,
Tentando se livrar do câncer? (oh, ineptos seres humanos...)
Uma vez segurado pelas mãos do amor, morre o insuperável;
Me abraça e faz disso uma verdade insofismável...
Quando tudo der a se perder, você será a minha bundinha de vaga-lume no escuro.
Porque, diante do vasto universo, não tenho nenhum valor,
E só me resta uma palavra pra poder acreditar
E é amor(!)
É uma arte conviver com a dor, misturar um pouco de luz ao cinza.
(Perdemos nove amigos nunca conhecidos há dois anos atrás)
E se a vida simplesmente se estendesse? Como ficariam os arrependimentos?
Jovens perdem a esperança
Porque não conseguem enxergar além de hoje -
É a sabedoria que o velho não pôde ensinar.
Constantemente recuada,
Ás vezes a vida não te impõe solidão irremediável;
Me abraça e faz disso uma verdade insofismável...
Existirá você.
Existirão vocês, meus muros das lamentações, meus alvos de chacota, minhas pernas mecânicas, meus relógios-cuco.
E as vozes que ouço diariamente. Um beijo a elas, aliás.
sábado, 27 de fevereiro de 2010
Partida
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Pra movimentar: ENQUETE
(Pra quebrar o gelo das relações também, vai! hahahahaha)
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
Reivindicação
QUERO AUTORIZAR POSTAGENS!
QUERO AUTORIZAR POSTAGENS!
DIREITOS IGUAIS........
ABAIXO A HIERARQUIA DO BLOG.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
we can be heroes

é... acabei de ouvir essa canção (cujo título é o título do post) do meu bróder Bowie e fiquei com isso na cabeça, e deu vontade de dizer isso.
a foto? somos nós três, humildes (porém dignos) autores desse humilde (porém digno) blog.
marina, marcelo e eu, da esquerda pra direita. sei lá.
essa nossa vida errada e errante, esses conflitos todos que nos fazem clamar alguma coisa por aqui, essas perspectivas e desilusões e desassossegos e vontades bobocas... eu acho que isso tudo faz da gente ANTI-HERÓIS. e, não sei se vocês sabem, mas um anti-herói é um puta-herói.
ele só é torto.
só é real.
só sou eu ou
só é você.
não sei se faz sentido pra você aí, humilde (porém digno) leitor, mas com isso tudo eu quero dizer que WE CAN BE HEEEEROES.
ah, só mais uma coisinha (em forma de profecia mendiga que eu tanto adoro e adoto):

um beijo para os morangos voadores e as clepsidras de carnaval
uhu.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Pedaço de Esquina
Depois de uma longa e embriagada conversa, o filho pede ao pai que lhe compre um pedaço de bolo. Os dois logo saem para a confeitaria.
Filho: Papai. Eu quero o pedaço do bolo que não tem cereja!
Pai: Pelo amor de Deus, pega esse pedaço e fica quieto. Se vem com cereja é pra comê-la.
Filho: Mas eu não posso comer os dois, e outra: a cereja atrapalha o bolo.
Pai: Atrapalha?
Filho: Sim. Se eu tirar a cereja, ela vai roubar parte do meu bolo; dai eu vou ter que lambê-la pra recuperá-lo.
Pai: Pois lamba!
Filho: Mas... Se eu pegar o pedaço que não vem cereja e ainda por cima for de esquina eu saio ganhando.
Pai: Não é mais fácil comer este pedaço e depois pedir outro?
Filho: Não! A esquina vem com corbetura lateral.
Pai: Quando tinha sua idade, não ficava com essas frescuras.
Filho: Talvêz porque o senhor nunca havia parado pra pensar na falta que faz o pedaço do bolo roubado pela cereja. É por isso que as pessoas lambem. Veja aquela senhora ali, lambeu todas as cerejas, mas não as comeu! Não combina.
Pai: Se não combinam, fazem por quê?
Filho: Porque quando tinham a minha idade, não ficavam com essas frescuras.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Quem está por fora, não segura um olhar que demora.
Encontro
Vem curar tem mal
Te transbordo em som
Põe juízo em mim
Teu olhar me tirou daqui
Ampliou meu ser
Quero um pouco mais
Não tudo
Pra gente não perder a graça do escuro
No fundo, pode ser até pouquinho
Sendo só pra mim, sim
Olha só, como a noite cresce em glória
E a distância traz
Nosso amanhecer
Deixa estar o que for pra ser vigora
Eu sou tão feliz
Vamos dividir os sonhos
Que podem transformar o rumo da história
Vem logo
Que o tempo voa como eu, quando penso em você.
Maria Gadú
domingo, 31 de janeiro de 2010
Meus caros, preparem-se, é hoje;
Que tal esquecer de acontecer?
É hoje, só pode ser hoje... A ventania que antecede a chuva entristece o fim do dia, obscurecendo o sol sem que ele possa ao menos se explicar. E é de uma beleza tão brilhante que logo acaba, com o surgimento de estrelas e da lua cheia, aparentando esconder segredos incontáveis, e relâmpagos acentuam as palavras consteladas pelo céu misturado aos postes e edifícios. Não há como não ser hoje.
Ouça as vozes, deite-se no chão, leia Clarice, leia Sartre, Florbela e Pessoa, leia o interior das coisas e pense em como tudo faz um sentido absurdo... Hoje é dia de encostar na parede e arrastar-se até o chão - vale tudo para fazer o pranto acontecer -, dia de parar o olhar e fixá-lo em nada por longos minutos, talvez tomar uma garrafa de vinho e sentir que se está só. Não deixe o telefone tocar, a não ser que seja engano!
E se hoje fosse seu aniversário?
A chuva ainda não veio, mas estou certa de que é hoje. Acredite! Busque brilhar os olhos com alguma fotografia muito linda, busque molhar os olhos com as coleções de cartas de pessoas muito queridas e com os filmes que você nunca mais vai esquecer... Hoje é dia de ouvir a sua trilha sonora e apertar os olhos; algo há de sair.
Faça um esforço... vale a pena. Chore um pouco hoje, ou chore muito até amanhã. Chore por qualquer coisa, pouco importam os motivos; apenas chore. Pelas crianças mudas telepáticas ou pela morte da bezerra ou pelo leite derramado. Chore de alegria. Saudade. Medo. Tristeza. Chore de rir, mas chore...
Pois eu ainda não consegui.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Eita, trem bão!

domingo, 3 de janeiro de 2010
Trocando lentes, obturadores, objetivas
O processo autoral passa pelo refinamento e suas cordas são afinadas por mãos alheias que se carrega por dentro, no interior de um pacote de pura entrega.
Nos últimos dias e meses e anos aprendi que crescer requer coragem. E coragem requer a preparação do ringue cerebral com muita luva e pouca espuma.
Há muita violência no caminho. É preciso!
Não sei mais se quero depender de ciclos para recomeçar e traçar planos - basta olhar-me no espelho e respirar fundo; acumular muito fôlego, relembrar o equilíbrio da perna-de-pau e desaprender o da corda-bamba ("não há guarda-chuva..."). É duro perceber que só se sabe cair de bunda. Há outras extremidades...
Agora é hora de aproveitar o sossego para ensaiar o desassossego!
A pequena infante não quer ir embora; e não vai... Não será necessário. Ainda tenho que brincar de bola...
Guardarei com carinho e me lembrarei com carinho de cada borboleta que passa pelo estômago, mas é tempo de cuspir as violetas certas, custe o que custar. Haja o que houver. Haja o que houver. Haja. Aja. Já!
Façam muitas manhãs, que se o mundo acabar, eu ainda não fui.
Ah, eu hei de ser
Terei de ser
Serei.
Um beijo para as vozes que ouço diariamente.