terça-feira, 18 de agosto de 2009

relatos de mais uma tarde descafeinada

-"O esquisito é que cada um é diferente do outro, uai!"
-"Ainda bem."


Dentro dessa miscelânea social que jura nos poupar tempo, onde buscamos a legitimação de nossa civilidade e identidade mediante ao país, deparo-me de costas para um casal. Percebo suas vozes suaves e o sotaque um tanto "acaipirado" (bem mais que o meu), e enquanto espero ser chamada para deixar de ser uma indigente, ouço essa troca simples de palavras, que tanto me comoveram pela doçura e trivialidade que fizeram com que eu tirasse o caderninho de dentro da bolsa.
O cara é um piadista! Ao entoar sua paródia desatualizada, o rapaz do "Jápa-Guei" me faz engolir uma gargalhada (e se ela simplesmente saísse?).
Vejo daí que meu riso algemado não era mais do que um ato desesperado por estar aqui, sentada, sem lenço nem documento, jogando o joguinho que de Paciência só traz o nome, observando aflita o painel que anunciaria ("dim-dom") o número da minha liberdade.
Não me atrevi olhar para o banco de trás. Só quero carregar comigo essas vozes, sem imagens, e acredito que desvendar o pequeno mistério casual poderia ser, a eles, uma invasão. Também eu não tive coragem de expor o meu rosto pálido, urbano e mimado aos heróis ocultos da minha tarde.
Eu estava sozinha. (ou não mais)
DIM-DOM!

Um comentário:

  1. Curiosidade que não quer calar: quem é o casal?

    Bela tarde, belo texto.

    DIM-DOM

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